O que aprendi em um ano de conversas de inovação

Publicado em: 15/06/2021

O que aprendi em um ano de conversas de inovação

Foram meses de bate-papos por meio da tela com especialistas das mais diversas áreas e o resultado é um compilado de boas ideias capazes de transformar negócios 

Por Rodrigo Guerra*

Lá se vão 12 meses – na verdade, um pouco mais – desde que eu comecei por aqui a série “Conversa de Inovação”. A ideia partiu da genuína vontade de bater papo com profissionais de diferentes áreas para compreender como eles pensam a inovação na transformação de negócios. Tudo aconteceu por meio de videochamadas que duravam, em média, uma hora, e o resultado é um compilado de boas ideias que eu compartilho agora. 

A evolução da série coincide, inclusive, com o avanço da pandemia no Brasil. Então, os aprendizados muitas vezes partem desse momento em que a adoção da tecnologia foi acelerada, exigindo de todos uma dose extra de paciência para aprender coisas novas muito rápido. Todos os conceitos de planejamento estratégico foram colocados à prova e só restou às empresas mudar e rever conceitos. 

Na Saúde, isso aconteceu, como eu descobri em um bate-papo da série, com o “médico do postinho”, que há anos era relegado a um lugar menos glamouroso da medicina, mas que na verdade é capaz de resolver cerca de 80% dos problemas de saúde da população com suas medidas de atenção primária. E também com o lançamento de um app dedicado a ajudar pacientes a seguir as prescrições de seu tratamento, pois muitos simplesmente abandonavam os cuidados ao chegar em casa. Portanto, inovação, muitas vezes, não é a criação de algo disruptivo, e sim a solução efetiva de um problema.

Mas se a transformação era considerada lenta na Saúde, os últimos meses ensinaram agilidade. Porque inovação não é sinônimo de ideia nova, e depende muito mais de romper com sistemas ultrapassados do que de grandes investimentos. As crises são ótimos momentos para abandonar comportamentos que já não funcionam mais. Foi assim em 2008 e é assim agora. Naquela época ninguém pensava em economia colaborativa e em compartilhamento de carros e casas. Então, eu pergunto: o que será que a transformação digital nos reserva nos próximos anos?

Uma coisa é certa, independentemente do tipo de inovação a ser oferecida, o consumidor já não é mais o mesmo. Foi promovido a superconsumidor, pois pesquisa tudo o que quer saber sobre determinado produto antes de partir para a compra já com a decisão feita na cabeça. Ou, em caso de serviços, usa as ferramentas para avaliar o que gosta e como se adapta a elas para só depois escolher fazer parte. 

No desenvolvimento da inovação raiz, ou seja, aquela que atua na transformação de negócios e não apenas no lançamento de um produto diferentão, o maior objetivo é agregar valor ao negócio – além, claro, de trazer dinheiro para a empresa. E isso só é possível com ciência e gestão unidas para promover essa mudança: big data, machine learning e data science são ferramentas que precisam estar integradas no ecossistema da inovação. 

O setor financeiro como um todo saiu na frente nessa corrida e colocou em produção projetos importantes, mas o varejo, além de ter muito apetite pelo risco, não é um segmento com tantos regulamentos – o que pode ser um grande facilitador. Basta, é claro, contar com investidores dispostos a apostar em negócios mais diversificados por conta dos juros mais atrativos. 

E quem é que vai desenvolver tudo isso se o Brasil ainda tem uma parcela  pequena da população fazendo empreendedorismo inovador? As dificuldades, sabemos, são muitas: falta instrução, há excessos burocráticos, além da falta de acesso a capital.

Ao empreendedor resta ser resiliente, resistente e ter uma boa visão comercial. Erros vão acontecer e eles devem ser aceitos como parte necessária do crescimento. É por isso que para inovar é tão importante trabalhar as próprias emoções. Especialmente porque o mais comum no começo é perder dinheiro e se decepcionar. 

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PS 1: Um dado que me contaram e sobre o qual eu fiquei bastante surpreso é que estamos avançando a discussão sobre transformação digital enquanto 48 milhões de brasileiros nunca usaram a internet. Para ter uma ideia desse número, saiba que o Estado de São Paulo tem 45 milhões de habitantes, então pense que toda a população de São Paulo mais o Distrito Federal nunca usaram um único serviço digital. O tempo da tecnologia não é o mesmo tempo das pessoas, e as coisas não são tão velozes como gostaríamos que fossem. 

PS 2: Reforço meu muito obrigado a todos que toparam a “Conversa de Inovação”, em ordem alfabética:

Arthur Igreja, Carla Tieppo, Cezar Taurion, Fabiane Simões, Fernando Teles de Arruda, Giselle Coelho, Lívia Cunha, Luis Lobão, Marcela Rocha, Mônica Bezerra, Roberto Celestino Pereira, Rodrigo Bernardinelli e Ronaldo Cohin. 

Foi ótimo papear com vocês! 

*Rodrigo Guerra é especialista em finanças e inovação. Atualmente vivencia um profundo mergulho na jornada do autoconhecimento – que deve trazer novidades em breve

Leia também:

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