Racionalização de custos na Saúde sim, mais investimento também

Publicado em: 10/12/2020

Racionalização de custos na Saúde sim, mais investimento também

Precisamos refutar o velho mito: somente melhorar a gestão não resolve os problemas da Saúde brasileira. Necessitamos de dinheiro e políticas públicas que preparem o SUS e a Saúde Suplementar para um futuro desafiador

Por Rodrigo Guerra* 

Um dos mitos mais recorrentes a respeito dos problemas enfrentados pelos gestores da Saúde, particularmente os do Sistema Único (SUS), é que não falta dinheiro, mas sim uma gestão mais adequada dos recursos. É preciso refutá-lo. Claro, melhorias gerenciais são necessárias e irão produzir mais eficiência, mas a matemática não é exata. Precisamos, sim, de mais recursos na Saúde.

Tanto na iniciativa privada quanto no SUS, há gestores muito eficientes e competentes, que entregam resultados excelentes mesmo diante de restrições orçamentárias severas. Há exceções, claro, mas a maior carência é de estrutura, o que demanda investimentos e remuneração mais justa para os profissionais.

O Brasil aparece na 82ª posição entre os países que mais gastam recursos públicos no setor de Saúde. Foram 10,3% dos gastos em 2017, valor próximo da média mundial de 10,2%, mas abaixo dos 13,2% das Américas e 12,3% da Europa. Japão (23,6%), Alemanha (20%), Nova Zelândia (19,8%) e Reino Unido (18%) são alguns dos países que aparecem na nossa frente. Os dados são de um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), realizado nos 193 países que fazem parte da entidade. 

Além disso, a maior parte dos gastos com Saúde no Brasil são privados, segundo dados de 2018 do Banco Mundial. Dos 8,2% do Produto Interno Bruto (PIB) gastos pelo país em Saúde, 4,4% são despendidos pela iniciativa privada e 3,8% pelo poder público, proporção baixa se considerarmos que o SUS é um sistema universal, do qual depende 75% da população.

O Brasil é um país muito desigual. E a necessidade de investimentos será ainda maior conforme a população envelhece. Se vamos viver mais, o que não necessariamente significa viver bem, precisaremos de mais cuidados médicos. E isso significa mais tecnologia, remédios e monitoramento.

Outra parte maior de recursos deverá ser usada para promover saúde, de modo a frear o gasto com o tratamento de doenças. Por isso, temos de nos preocupar com a dificuldade do Estado em investir. Enquanto representante de nossos interesses e necessidades coletivas, se o poder público se furta de gastar mais na Saúde, também se torna um promotor de desigualdades.

E como exigir responsabilidades e cuidados com a saúde individual dos cidadãos se uma parcela enorme da população tem renda inferior ao salário-mínimo?

A promoção de políticas públicas que estimulem o autocuidado e a adoção de bons hábitos exigirá mais orçamento governamental e, também, privado, seja por parte das famílias ou das organizações que atuam na Saúde Suplementar. A tecnologia, portanto, é fundamental, assim como a inteligência de dados e a qualificação dos profissionais. Só assim teremos um horizonte de longevidade e qualidade de vida para todos.

Sim, as responsabilidades são coletivas, mas cabe ao Estado um projeto robusto, claro, eficiente e transparente que sirva de baliza para enfrentarmos (e vencermos) esse desafio.

*Rodrigo Guerra é especialista em finanças e inovação em Saúde. Atua como superintendente executivo da Central Nacional Unimed, organização responsável por administrar todos os contratos de abrangência nacional do Sistema Unimed.

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