Startup não é tamanho, e inovação não é correr atrás do prejuízo

Publicado em: 04/02/2021

Startup não é tamanho, e inovação não é correr atrás do prejuízo

Conforme o conceito de inovação se populariza e perde o foco, empreendedores brasileiros precisam se concentrar em criar modelos de negócio inéditos, sem se perder em cópias baratas; desenvolvimento do país depende disso

Por Rodrigo Guerra* 

Todo modismo distorce conceitos. Acontece muito na TI: cria-se uma tendência ou tecnologia que aos poucos vira hype, e então boa parte do que o mercado fará em seguida não corresponde à ideia inicial. É o que está acontecendo agora com a inovação: todos se dizem inovadores, empresas criam laboratórios, contratam especialistas, mas a maior parte das iniciativas não consegue transformar plano em prática.

São, muitas vezes, departamentos e pessoas que só correm atrás do prejuízo.

Uma loja física que adota uma solução de e-commerce, por exemplo, não inova. Muito menos uma empresa que implanta um ERP ou CRM. Aliás, toda Pequena e Média Empresa (PME) que nasce atualmente se autodenomina startup, e os fundadores ganham cargos C-level instantaneamente. Mas ser pequeno e jovem não define uma startup, nem sua capacidade de inovação.

Startups são, isso sim, empresas que testam um modelo de negócios novo. Justamente por isso, são iniciativas de risco, já que não é possível prever com 100% de certeza se uma ideia vai resistir à prova da realidade. Quando um empreendedor lança uma startup, não deveria olhar para empresas ou produtos que já estão no mercado, mas sim para as necessidades (ou “dores”, como chamam algumas metodologias) ainda não atendidas.

Quando, então, surge um produto ou serviço para atender uma necessidade nunca antes endereçada, temos a inovação de fato. (Claro que há aquelas que miram em uma necessidade e acertam em outra, mas é isso é papo para outro artigo.)

Os empreendedores brasileiros precisam se concentrar menos em replicar experiências que deram certo e mais em observar os inúmeros problemas que pairam por aí, ainda sem solução. Só assim o Brasil poderá desenvolver todo seu potencial inovador.

Algumas das ideias mais criativas e inovadoras que já vi partiram de soluções criadas por conta de alguma necessidade não atendida, inclusive pessoal. É o caso da Jade Autism, do Ronaldo Cohin, que tive a honra de entrevistar recentemente. Ele pensou em uma solução para ajudar no desenvolvimento do filho e, por tabela, beneficiou todas as crianças autistas.

 Profissionalização necessária

Um caminho, portanto, para desenvolver o ecossistema de inovação no Brasil é profissionalizar iniciativas pessoais. Isso passa por incentivar as pessoas a conhecerem metodologias de desenvolvimento e gestão de projetos inovadores, como scrum, agile, growth, e tantas outras.

Essas ideias individuais, em geral, têm em comum não só a capacidade de delimitar o que de fato é inovação, mas também alto potencial de desenvolvimento econômico e geração de emprego. Em um cenário de juros tão baixos como agora, e que devem se manter assim a médio prazo, a possibilidade de conseguir investimento é grande. Afinal, os fundos vão se arriscar mais, apostando em negócios de alta rentabilidade – quando derem certo.

Empresas consolidadas e tradicionais, desafiadas como estão, também devem abrir os braços para a inovação. Healthtechs, fintechs, entre outros, demandam esse impulso, seja por meio de investimentos ou consumo de soluções por parte das organizações estabelecidas.

O Brasil é um país muito criativo e com muitas necessidades. Se conseguirmos incentivar inovação genuína em novos modelos de negócio, podemos encontrar um caminho sustentável para o desenvolvimento. 

Eu acredito, e você?

*Rodrigo Guerra é especialista em finanças e inovação em Saúde. Atua como superintendente executivo da Central Nacional Unimed, organização responsável por administrar todos os contratos de abrangência nacional do Sistema Unimed.

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