Mercado cannabis: falta muito pra ciência desbancar o estigma?

Publicado em: 28/06/2022

Mercado cannabis: falta muito pra ciência desbancar o estigma?

Crescem as evidências científicas que comprovam os benefícios terapêuticos da planta, mas as políticas públicas seguem limitantes. Isso está nos custando um bom dinheiro e muitos empregos

Por Rodrigo Guerra*

Pouca gente há de discordar quando digo que novos negócios idôneos e que apresentam elevada oportunidade de geração de empregos e de investimentos merecem, ao menos, ser estudados e avaliados com cautela pela sociedade. Mas tal “chance” não está sendo dada à cannabis e seus múltiplos produtos e serviços derivados por puro preconceito. Só que essa fama de “droga” da planta ainda vai atrapalhar muito a nossa economia.

Outros países, com destaque para os EUA, Holanda, Portugal e até nosso vizinho Uruguai, já legalizaram a venda, o cultivo e a distribuição da cannabis, para qualquer que seja seu uso final  – incluindo o recreativo a que muitos se opõem por aqui.

O Brasil, com sua enorme vocação para o agronegócio, segue impedido de aproveitar a boa onda do setor canabinoide por conta de uma política pública atrasada

O Projeto de Lei que discute o tema por aqui é de 2015 e, embora Anvisa aprove a importação do produto canabidiol pronto para uso farmacêutico desde essa época, o governo ainda patina em aprovar uma regulamentação que permitiria o cultivo e subsequente impulsionamento do crescimento econômico nacional, gerando empregos nos mais diversos setores: do campo à indústria têxtil, do laboratório farmacêutico a dermocosméticos e até mesmo alimentos.

Resultado? Estamos abdicando de uma verdadeira fortuna. Um relatório da Fortune Business Insights comprova uma movimentação global na casa dos US$ 20 bilhões em 2020 e estima que esse número chegue a US$ 197,74 bilhões em 2028 – você leu certo, esse salto de quase 900% é em apenas seis anos! Eu realmente desconheço qualquer outro nicho com um crescimento parecido.

A verdade é uma só: a cannabis é um negócio bilionário e que cresce no mundo todo. Em 2028 deve movimentar mais de US$ 197 bilhões. Sem uma lei clara e baseada em evidências científicas, a fatia desse mercado destinada ao Brasil será irrisória

Sociedades mais avançadas que a nossa já estão discutindo a mudança de suas políticas públicas em relação às drogas, especialmente com relação à violência, e, em paralelo, permanecem se respaldando em evidências científicas robustas para ampliar o uso da cannabis farmacêutica, seja por meio do canabidiol e até de THC e outras moléculas.

Acabo de voltar de uma semana de muito aprendizado na Inglaterra, onde participei da London Tech Week juntamente com investidores de fundos, e por lá a grande discussão sobre o tema é por mais liberalidade pelo uso, pois a análise geral é que a política avançou pouco nesse sentido [Em tempo, no Reino Unido, a cannabis já é vendida em farmácias].  Nos EUA, por sua vez, com suas leis já votadas, está ocorrendo um fenômeno curioso, de excesso de oferta de produtos.

Já o Brasil, repito, se priva de gerar novos negócios e empregos devido a preconceitos que seguem enraizados. Imagine você a quantidade de startups e de inovação que estão sendo suprimidas por uma limitação legislativa?

Está na hora de a gente abdicar de ideias preconcebidas e testar novas soluções, nos inspirando e aprendendo com aqueles que já agiram para ter um resultado melhor. Especialmente porque a solução adotada até agora em relação à política de drogas – colocar mais gente na cadeia – não tem surtido o efeito desejado, muito pelo contrário…

Durante o mês de junho/22, o Unbox mostrou inúmeros exemplos de como a cannabis farmacêutica não é apenas uma excelente solução terapêutica para milhões de pacientes que não encontram outra opção para aplacar suas dores, mas como tem potencial de ser até mesmo uma nova commodity nacional. Recomendo que leiam e se informem cada vez mais. Só assim vamos debater o tema sem estigmas limitantes. Visite o site do projeto Unbox.

*Rodrigo Guerra é especialista em finanças e inovação. As duas áreas não costumam ser associadas, mas quando estão lado a lado, elas conseguem transformar projetos inovadores em prática diária nas empresas. No Unbox, do qual é fundador, realiza uma curadoria de conteúdos fundamentais para impulsionar as mudanças urgentes e necessárias de pessoas, negócios e da sociedade.

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