Seis pensamentos para empreendedores pós-layoffs

Publicado em: 16/06/2023

Seis pensamentos para empreendedores pós-layoffs

Geraldo Neto, fundador da Staged Ventures e GAA Investimentos, acredita que o momento é de retorno à realidade

Por Adriele Marchesini, cofundadora do Unbox Project

De sua casa em uma cidadezinha da Flórida (Estados Unidos), Geraldo Neto, fundador da Staged Ventures e GAA Investimentos, participava da chamada de vídeo sentado no sofá de sua ampla e iluminada sala. Era meio de tarde e a luz que atravessava as grandes janelas permitia uma visão cristalina do ambiente – pelo qual o entrevistado fez questão de fazer um tour, celular em punho, para mostrar os quadros de sua autoria distribuídos pelas paredes.

“Quando a pandemia estava chegando, fui a uma loja e comprei 50 telas, tubos de tinta, pincéis. Pintei um quadro por dia, chamei a série de Quarentena“.  O rompante artístico não é de agora. Se Geraldo Neto é conhecido no mundo de negócios como investidor de mais de 30 empresas e que já alocou milhões de dólares em organizações, em outro universo, mais seleto, é criador do Zé Doidinho, o protagonista de dois livros infantis que levam sua assinatura. “Empreender é um tanto coisa de artista”, justifica. “Você está vendo algo que ninguém mais está, e tenta trazer para a realidade. Além do mais, quanto mais eu treino minha criatividade, mais eu uso o lado esquerdo do cérebro, o que me ajuda em processos mais espaciais de análise de negócios. “Muitos dos mortais que se enveredaram pela jornada artística sob o véu protetor do isolamento social encontraram alento e distração. Alguns talvez tenham descoberto uma nova missão. Geraldo fez dinheiro. Sua coletânea de obras entrou para o circuito de exposição RedDot – Art Based Miami,  uma das maiores do mundo.

 

O público gostou e não se satisfez com o deleite momentâneo. Quis levar para casa. Especialista em valuation, o investidor colocou todo seu conhecimento de negócios de lado para mensurar o intangível valor da arte, algo tão íntimo que, agora, não era mais exclusivamente seu. Pouco mais de dois anos depois, seus quadros já triplicaram de valor.Se Geraldo é o Midas moderno, triplicando o valor de telas e de startups com o toque da mão, cabe a você inferir. Sem dúvida, ele é um profundo conhecedor do mercado de gestão e inovação e, nesta conversa com o Unbox Project, dá insights para o empreendedor nesse momento de ajuste de mercado que culminou em menos dinheiro disponível, mais demissões e pouquíssimo tempo a se perder.

O passado aparentemente”glorioso” escondia uma realidade…
“Com a pandemia, muito dinheiro foi colocado pelo governo em todos os países do mundo. Esse dinheiro foi para a economia e subiu, chegou aos fundos de investimento. Quando você coloca muito dinheiro na mão do gestor, ele fica perdulário. Deixa de ser pragmático nas decisões, de analisar ROI, de fazer perguntas mais difíceis para as startups que querem investimento. Então muitas empresas que pareciam ser de tecnologia, mas eram majoritariamente de serviços, receberam aportes. E serviço não é escalável. Em 2019 os investidores estavam pagando 15, às vezes até 30 vezes, o múltiplo do ARR (Receita Recorrente Anual, em português) da companhia. Hoje se fala em dez vezes, sete vezes, seis vezes. No meu entendimento, hoje nós estamos do tamanho que deveria ser. E nós vivemos esse movimento de sobe e desce em um prazo muito curto. Se essa acomodação demorasse dez anos, como realmente acontece, ninguém sentiria.” 

…a demanda foi inflada…
“Nessa toada de maior investimento e mais demanda principalmente por soluções de tecnologia, as contratações vieram aceleradas. E quando você contrata rápido você contrata errado. A máxima é demita rápido e contrate-se devagar. Mas as empresas de tecnologia, as grandes e as startups, precisavam dar conta. Porque era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e havia muito dinheiro disponível.”

… as lideranças de startup sofrem…
“Quando a gente fala de startups, elas são comandadas pelos fundadores, que muitas vezes receberam um investimento pela primeira vez. E, muitas vezes, é a primeira vez que fazem um corte tão grande na equipe. Isso é uma coisa que fica marcada na trajetória do empreendedor. O Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, manda 30 mil pessoas embora e não sabe nem quem são essas pessoas, é o RH quem cuida de tudo. Mas na startup, é diferente, é muito mais dolorido, porque você conhece as pessoas. Você contratou elas. Você sabe que elas dependem daquilo.”

…e nesse sofrimento desenvolve-se resiliência…
“Empreendedor é aquele cara que vai de barquinho para uma ilha e bota fogo no barquinho. Ele não tem plano B. Ele não está buscando uma carreira. Ele nem tem carreira, é a vida dele, é muito diferente de executivos de mercado.”

…e melhora-se a capacidade gerencial…
“De uma maneira geral, os empreendedores saem da crise mais preparados para tomar decisões quando o mercado estiver aquecendo. Eles vão contratar mais devagar e na medida da necessidade real do negócio, e não naquele senso de otimismo. Tem uma frase que eu ouvi alguns anos atrás que diz o seguinte: ‘você tem que ser otimista no pensamento, mas pessimista nas ações’. É um equilíbrio de ambos que faz com que você tome boas decisões.

…e aprende uma importante lição…
A realidade se impõe. E ela ensina muito. E a obrigação dos empreendedores é aprender com isso. O plano de ação fica diferente, contempla mais a realidade. É nessa hora que você começa a separar o bom empreendedor do sonhador.

 

*Adriele Marchesini é jornalista especializada em TI, negócios e Saúde com quase 20 anos de experiência. Depois de passar por redações de veículos como Estadão, Infomoney, ITWeb e CRN Brasil, cofundou as agências essense e Lightkeeper,  as quais já ajudaram mais de 80 empresas na construção de conteúdo narrativo multiplataforma para negócios. Além de cofundadora do Unbox Project, é coâncora do podcast Vale do Suplício

*O Unbox Project é um programa de desenvolvimento de carreira que conecta líderes de negócios, entidades auto-organizadas e empresas com metas de ESG para destravar a inovação e a economia sustentável. Como parte de sua missão de “desencaixotar o pensamento crítico que deve(ria) anteceder a inovação”, tem produção de conteúdo recorrente no site unbox.dev.br e na seção Homework, do portal Terra.

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